Lava Jato atingiu membros de 33 partidos; duas siglas não foram implicadas

Levantamento inédito do Truco revela que não houve denúncias, menções ou investigações da Lava Jato para PCO e PSTU, dentre os membros dos 35 partidos brasileiros. Cinco partidos tiveram filiados já condenados na operação, que completa uma década em 2019

Adriano Belisário, Thays Lavor, Rômulo Costa, Carolina Capelo
7 minutos

“[Em] todos os partidos hoje […] existe gente na Lava Jato”, General Theophilo (PSDB) em debate com os candidatos ao Governo do Ceará realizado pelo Sistema Jangadeiro no dia 22 de agosto.

O candidato tucano ao Governo do Estado errou ao dizer que existem políticos de todos os partidos brasileiros envolvidos na Operação Lava Jato, durante o primeiro debate dos postulantes ao Palácio da Abolição no Sistema Jangadeiro.

Um extensivo levantamento feito ao longo de um mês pelo Truco nos Estados –  projeto de checagem da Agência Pública – identificou que duas siglas não possuem nenhum dos seus filiados citados, investigados, denunciados ou condenados em nenhum momento da Lava Jato. Dentre todos os 33 partidos que foram implicados de alguma forma na força-tarefa, apenas cinco tiveram pelo menos um filiado já condenado pela Justiça.

PCO e PSTU passaram totalmente ilesos. Na outra ponta, apenas MDB, PP, PT, PTB e Solidariedade (SD) tiveram filiados já condenados na Lava Jato. Quanto aos demais, o fato de terem sido investigados, denunciados ou citados não significa que tenham praticado ato de corrupção confirmados por condenação na Justiça.

Por isso, o Truco atribuiu o selo “Falso” à declaração de General Theophilo. A assessoria do candidato foi informada sobre o resultado da checagem, mas preferiu não se manifestar.

13 partidos com investigados ou denunciados

Outros 13 partidos já tiveram pelo menos um de seus membros presos temporariamente, denunciados ou investigados na história da Lava Jato. São eles: Avante (antigo PTdoB), DEM, PCdoB, PDT, PMN, PPS, PR,PRB, PSB,PSD, PSDB, PSL e PTC. Apesar de entrarem na mira da Operação, as denúncias envolvendo estes partidos não foram confirmadas por sentença judicial. É o caso de Cândido Vacarezza (Avante), preso temporariamente em agosto de 2018, na operação batizada de Abate, 44ª fase da Operação Lava Jato, por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

Dados de agosto deste ano apontam que a Lava Jato resultou em 78 acusações criminais contra 328 pessoas em quatro anos de investigação. Dessas, 43 já foram sentenciadas por crimes como corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro durante a operação, cujas etapas primordiais foram iniciadas em 2009, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

 

Infográfico: Carolina Zanatta

 

15 dos 35 partidos foram apenas citados

15 dos 35 foram apenas citados nas investigações ou delações, sem terem tido membros de fato denunciados formalmente. O fato de algum político ou filiado ter sido citado em algum momento da Lava Jato não quer dizer que eles foram réus e muito menos que cometeram atos ilícitos comprovados.

Nesta categoria, há casos diversos, que vão desde acusações envolvendo caixa dois, a possíveis recebimento de propina em obras públicas e situações onde o partido teria sido delatado por receber dinheiro para apoiar candidaturas. Nela, identificamos os seguintes partidos: DC (antigo PSDC), Novo, Patriota (antigo PEN),PCB, PHS, PMB, Podemos (antigo PTN), PPL, PROS, PRP, PRTB, PSC,PSOL, PV e Rede.

A declaração de Theophilo foi dada durante resposta ao adversário Hélio Góis (PSL), que citou envolvimento do partido tucano na operação Lava Jato. Ao afirmar que “em todos os partidos” há gente envolvida na Lava Jato, o general fez menção ao PSOL, como provocação ao candidato Ailton Lopes.

Antes, Theophilo havia citado o caso da ex-deputada estadual Jandira Rocha, que presidiu a sigla no Rio de Janeiro, que foi denunciada por improbidade administrativa, porém este caso não tem relação com a operação Lava Jato.

Sobre o Psol, o levantamento do Truco chegou ao nome de quatro filiados citados. Três foram mencionados em delações da Odebrecht.

Segundo delatores, Paulo Rubem Santiago (ex-PDT e atualmente do PSOL-PE) recebeu um repasse de R$ 76 mil para sua campanha a Câmara Federal em 2010. As demais delações da Odebrecht citam Clécio Luís Vilhena Vieira e João Paulo Rillo. O primeiro (atualmente filiado a Rede-AP) foi citado por receber R$ 450 mil para sua campanha à prefeitura de Macapá em 2012, já o deputado estadual João Paulo Rillo (PSOL-SP) aparece por supostamente ter recebido R$ 500 mil nas eleições do mesmo ano.

O quarto psolista constava na lista de políticos investigados pela Lava Jato, que ficou conhecida como ‘lista de Fachin’, em alusão ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), atual relator da Lava Jato. Trata-se de  Leonel Brizola Neto, no inquérito que investiga o pagamento de propina de R$ 16 milhões a Eduardo Paes por obras das Olimpíadas, Fachin afirmou que há menções a pagamentos também a Leonel Brizola Neto, descendente do político gaúcho.

Vale ressaltar que na categoria de citados há casos onde os processos já foram arquivados, como é o caso da Rede. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi citado no depoimento de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, delator da operação Lava Jato. Mas o STF arquivou em 2016 a citação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A presidenciável Marina Silva (Rede) também foi mencionada em delações. Segundo o ex-presidente da OAS, Adelmário Pinheiro (Léo Pinheiro), ela teria recebido recursos ilícitos para campanha de 2010.

Filiado do Novo repassou dinheiro para empresa de Youssef, segundo MPF

No caso do partido Novo, por meio de um cruzamento de dados, o Truco identificou o empresário Demetrius Rios Lyrio, que se filiou à legenda em Espírito Santo em fevereiro deste ano e foi mencionado em 2016 no processo onde o Ministério Público Federal denuncia Alberto Youssef. O caso envolve crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens oriundos de corrupção, mas Demetrius Rios Lyrio não foi réu e o processo em que ele foi citado já foi concluído.

Além de ser mencionado no processo, Demetrius Rios teve seu sigilo bancário quebrado, pois foram identificados repasses de sua conta corrente para a CSA Project, empresa de fachada pertencente a José Janene e  Alberto Youssef.

Ao Truco, Lyrio confirmou a filiação ao partido Novo. Disse que não tem pretensões políticas, mas não descarta a possibilidade de ocupar um cargo público. Disse ainda que a operação Lava Jato é positiva para o país. Quanto ao processo em que foi citado, limitou-se a comentar: “Tive o sigilo quebrado, mas nunca houve nada, sequer fui notificado e intimado pela Justiça”.

Como foi feito o levantamento?

A pesquisa contou com cruzamentos de grandes bases de dados, pesquisas a fontes públicas e investigação própria. Como seria inviável fazer um levantamento exaustivo da situação judicial de cada filiado em particular, checamos se, em cada partido, houve pelo menos um caso onde algum filiado foi citado, investigado, denunciado ou condenado ao longo da operação.

Além de consultar fontes públicas, a checagem consolidou uma base de dados de filiados a partidos do TSE (veja aqui o código utilizado) e cruzamos com diferentes outras listas relacionadas à Lava Jato, como os nomes dos 333 denunciados do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR), referente a agosto de 2018.

Também utilizamos o levantamento do Lava Jota, que agrega todas as pessoas citadas, investigadas, denunciadas ou condenadas, a partir de centenas de processos que compõem a Operação Lava Jato até setembro de 2017. E a lista da Justiça Federal do Paraná (JFPR), atualizada de setembro deste ano, que conta também com os nomes de todos os denunciados.

Foram levados em consideração também levantamentos prévios feitos pela imprensa, como o de políticos envolvidos pela BBC e a pesquisa feita pelo O Globo, que em abril de 2018 apontou que a Lava Jato investigou e denunciou políticos de 14 dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),  incluindo o PSDB ao qual Theophilo é filiado.  A diferença entre o total de partidos investigados do O Globo e o do Truco é que nós categorizamos os partidos em quatro tipos de envolvimento: Sem menções, citados, denunciados ou investigados e, por fim, condenados.

O PSL, por exemplo, é um partido que, pela nossa investigação na atual lista da JFPR,  está na categoria denunciados, pois tem o ex-secretário adjunto de Transportes do Distrito Federal Júlio Luís Urnau (PSL-DF) entre os envolvidos.

Afastados casos homônimos, após o cruzamento com as diversas listas citadas, o resultado do levantamento do Truco é que apenas o PCO e PSTU jamais tiveram filiados com qualquer tipo de envolvimento ou citação ao longo da operação Lava Jato.

Em nota, o Ministério Público Federal explicou que não informa nomes dos investigados. Ou seja, é possível que existam hoje filiados sendo investigados, mas cujos nomes ainda não vieram a público.

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