Gasto com acidente de moto é alto em Pernambuco, mas Lóssio exagera
Pernambuco desembolsou aproximadamente R$ 925 milhões em 2016 (valor corrigido pelo IPCA), dado mais atualizado disponível, por conta desse tipo de ocorrência. É menos do que o R$ 1 bilhão apontado pelo candidato da Rede
“Hoje em Pernambuco […] apenas com acidentes de moto […] nós chegamos a uma cifra, em 2017, de R$ 1 bilhão” – Sabatina Rádio Folha 21 de agosto
O uso de motocicletas ajudou, nos últimos anos, a resolver o problema de deslocamento de muita gente nas regiões metropolitanas e também no interior. Mas gerou um fator de preocupação: o crescimento do número de acidentes e, consequentemente, o impacto econômico nos gastos com saúde. O candidato Júlio Lóssio (Rede), médico de formação, abordou o assunto durante sabatina da Rádio Folha, mas exagerou um dado relevante, que abrange o total gasto com esse tipo de acidente, o que inclui fases pré-hospitalar, hospitalar e pós-hospitalar. Ele voltou a abordar o assunto, citando os mesmos números, em entrevista à TV Jornal no dia 31.
O Truco nos Estados – projeto de fact-checking da Agência Pública, feito em Pernambuco em parceria com a Marco Zero Conteúdo –, após checagem junto à Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) e ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), verificou que o estado gastou, em 2016 (dado mais atualizado disponível), aproximadamente R$ 925 milhões, valor corrigido pela inflação (IPCA) acumulada entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016 (índice de correção no período: 1,18). Sem a correção, o valor seria de R$ 780 milhões (explicamos mais à frente).
Esse cálculo leva em consideração componentes médios de gastos com acidentes de trânsito terrestres: perda de produção por afastamento temporário ou permanente do trabalho, cuidados com a saúde (pré-hospitalar, hospitalar e pós-hospitalar) e remoção/translado. Portanto, o selo atribuído a Lóssio é “Exagerado”.
Como estipula a checagem do Truco nos Estados, o primeiro passo foi saber a origem das informações ditas pelo ex-prefeito de Petrolina. Consultada, a assessoria de imprensa informou que o candidato se baseou em conversas com o coordenador do Comitê Estadual de Prevenção aos Acidentes de Moto (Cepam), Dr. João Veiga, e em matérias publicadas na imprensa, a exemplo do Diario de Pernambuco e da Folha de Pernambuco.
O Cepam, instituído no governo Eduardo Campos em 2011, por meio do decreto, é formado por 19 entidades – entre secretarias estaduais, órgãos conselheiros e órgãos fiscalizadores – e coordenado pela pasta da saúde.
Aqui uma observação importante: as matérias não fazem referência ao ano do dado apresentado. E Lóssio, ao falar sobre o assunto na sabatina, se referiu ao ano de 2017. Porém, de acordo com a SES-PE, as informações mais recentes são de 2016.
A base de cálculo usada pela Secretaria de Saúde é de uma pesquisa feita em 2015 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), usando valores em reais de 2014, e que leva em consideração valores de acidentes de trânsito em todo o Brasil. São os únicos números utilizados pelo secretaria. O comitê, por sua vez, utiliza os mesmos dados.
O cálculo
Vamos aos números. Em 2016, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, foram contabilizados 39.786 acidentados, sendo 29.542 envolvendo motociclistas. Desse total, a vigilância conseguiu analisar 24.737 casos, sendo 895 óbitos (dados do Sistema de Mortalidade – SIM), 5.530 internamentos e 18.312 acidentes considerados leves, sem internação (notificações compulsórias dos acidentados de trânsito nas 17 Unidades Sentinelas de Pernambuco, referências no atendimento ao trauma).
Esses números, pontua a SES, estão subestimados, uma vez que uma vez que as notificações são feitas nas 17 Unidades Sentinelas, mas acidentados também podem receber assistência em outros serviços e aí não constam no sistema de notificação. Mas, por serem esses os dados oficiais e a única metodologia confiável disponível, essa é a base de comparação possível.
De acordo com a pesquisa do Ipea, o custo de um acidente de trânsito com vítima nas rodovias federais brasileiras é, em média, de R$ 96.747 (atualizado pelo IPCA: R$ 114.693). Havendo óbito, esse valor salta para R$ 664,821 mil (atualizado pelo IPCA: R$ 788.146). Já nos casos em que não há vítimas, o que se despende, em média, é R$ 23,498 mil (atualizado pelo IPCA: R$ 27.856) – com uma média global R$ 261.689.
Multiplicando a quantidade de cada tipo de acidente pelo seu respectivo valor atualizado, chega-se a um total aproximado de R$ 1,85 bilhão.
Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, a estimativa é que o custo para o estado gire em torno da metade desse total. Portanto, aproximadamente R$ 925 milhões, e não R$ 1 bilhão, como havia citado o candidato da Rede.
Candidato discorda, confira resposta na íntegra:
Por meio de sua assessoria de imprensa, o candidato Júlio Lóssio contesta o selo “Exagerado” atribuído a ele pelo Truco, por acreditar que a variação em percentual do que foi anunciado difere pouco do que, de fato, é aplicado. Em paralelo, o candidato reforça que esse valor, tanto o anunciado pelo governo quanto o que o ele tem declarado, é muito maior por se tratar de uma ordem de grandeza.
Atualização de resposta em 13/9/18, às 11h44
No dia 13, a assessoria de comunicação de Lóssio enviou uma outra resposta, contestando agora o selo e argumentando sobre o valor gasto, que, segundo a equipe, até ultrapassaria R$ 1 bilhão.
O Truco nos Estados avaliou e decidiu manter o selo “Exagerado”, uma vez que os dados mais recentes da SES-PE são de 2016, por isso a atualização pelo IPCA ter sido feita até dezembro/16. Além disso, o estudo do Ipea não cita a questão do dólar, então seria impossível atualizar os valores por esse cálculo. Tal estudo fala sobre custo com acidentes terrestres, e não sobre tamanho de frota.
Confira a resposta na íntegra:
Pernambuco gasta mais de um bilhão de reais em acidentes de moto
A declaração do candidato a governador de Pernambuco, Julio Lossio (Rede), de que o Estado gasta um bilhão de reais com as vítimas de acidentes de moto, feita durante a sabatina da Rádio Folha, é verdade.
Os dados revelam que a frota de veículos automotores em Pernambuco cresceu cerca de 296.882 automóveis nos últimos três anos. Desses, cerca de um terço é motocicleta ou motoneta, o que vem a consolidar afirmação do candidato, já que esses números não foram computados no levantamento-base realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
De acordo com o economista Geraldo Junior, também houve uma variação na média dos preços gastos com os acidentes que provocam sequelas e exigem tratamento de urgência e emergência, pelo fato de serem esse insumos dolarizados. Normalmente, nesses casos é necessário utilizar medicamentos que possuem uma base farmacoquímico importada e o valor aproximado do dólar em 2016 de R$ 3,20 cresceu e chegou a um nível de R$ 4,15 nos dias atuais.
Apesar do Truco ter atribuído o selo “exagerado” à declaração de Lossio, os dados mostram que as atualizações do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até os dias atuais, seguindo apenas o modelo apresentado, já chegam a valores de R$ 979 milhões, apenas pela variação da inflação de 2017 e os primeiros meses de 2018. Além disso, muitos insumos da área de saúde e hospitalar tendem a ter seus preços acentuados acima desses valores medianos captados nos índices inflacionários.
Um outro aspecto que não foi possível ainda dimensionar são os gastos que o Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de Pernambuco teve que estruturar para conseguir dar conta do volume crescente de acidentados.
Esses números ficam diluídos em outras despesas e a ampliação da estrutura desse nível de atendimento é muito dispendiosa, devido à gravidade dos acidentes e dos riscos à vida humana em cada caso. Esse é um dos grandes gargalos que o sistema de saúde teve de enfrentar, pois custa caro e corrói parte significativa de investimento e custeio para as outras áreas do sistema de saúde.
O IPEA estimou em 2015 um custo de R$ 50 bilhões do conjunto dessas despesas para o país, porém, a depender da modelagem do que foi estimado e da dimensão da nossa frota, esses valores podem ser ainda maiores.
Assim, reafirmamos nosso compromisso de melhorar e tornar eficiente a fiscalização; buscar uma efetividade no uso de equipamentos de segurança para os motociclistas e passageiros; melhorar a atuação da ‘Lei Seca” de forma que possamos ter um trânsito eficiente e seguro para todos.
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