Não há pesquisa global que faça do Paraná líder mundial em produção de alimento
Ratinho Júnior não informou estudo técnico que sustente a afirmação, cuja veracidade não pode ser comprovada.
“O Paraná é o maior produtor de alimento por metro quadrado do mundo”, disse Ratinho Júnior (PSD) na Associação Comercial do Paraná no dia 27 de agosto, ao apresentar seu plano de governo.
O Truco nos Estados – projeto de fact-checking da Agência Pública feito no Paraná em parceria com o Livre.jor – perguntou ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) se existe alguma pesquisa oficial que pusesse o estado no topo do ranking nacional de produção de alimento. Não há.
Ratinho Júnior usou a mesma frase no primeiro debate eleitoral no estado, quando os políticos ainda eram pré-candidatos, que ocorreu no dia 27 de julho na Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná. Desde então, repete-a.
A assessoria da campanha foi consultada diversas vezes sobre quais dados embasam a grandiloquente afirmação, mas não deu resposta. Não indicou estudo, nem detalhou qual metodologia sustenta o mote de Ratinho Júnior na disputa ao Palácio Iguaçu. A frase, portanto, foi considerada impossível de provar.
Dados internacionais – Desde 1930 a Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO) busca aperfeiçoar a metodologia do Censo Agropecuário Mundial, realizado de dez em dez anos. A edição de 2020 ainda tenta superar disparidades estatísticas entre a coleta de dados dos países.
Com essa ressalva feita, a FAO disponibiliza dados da produção de alimentos por país. Comparamos Brasil, Índia, China e Rússia no critério produção total de alimento, ano a ano, de 2010 a 2016. Os dados tratam da produção total e não da produção por hectare.
Nesse intervalo de sete anos, apenas em 2010 e 2015 o Brasil superou os demais, segundo os dados compilados pela FAO, ligeiramente à frente da Índia. Em geral, nosso país ostenta o segundo lugar, à exceção de 2012, quando foi superado pela China e ficou em terceiro, e de 2016, quando o Brasil caiu para quarto, ultrapassado pela Rússia.
Pela característica desses dados, não é possível afirmar se determinada região da Índia, em 2016, ano que o país ficou à frente do Brasil em produção de alimentos, não teve desempenho igual ou melhor que o Paraná. A FAO não disponibiliza dados pormenorizados de cada país.
Ranking nacional – O Departamento de Economia Rural da secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) divulga, periodicamente, o rendimento da produção agropecuária no estado.
Em 2016, levantamento mais recente disponível, o Paraná produziu soja acima da média nacional – 3.102 quilos por hectare (kg/ha) ante 2.095 kg/ha. Esse cenário positivo se repete nas culturas de aveia (em grão), centeio, cevada, feijão, fumo (em folha), mandioca, milho e trigo.
Mas o estado fica abaixo da média nacional quando o quesito é amendoim, arroz (em casca), batata inglesa, café, cana-de-açúcar, cebola e sorgo.
Conforme o estudo da Seab, em apenas 4 dessas 18 culturas o Paraná é líder em produção. É o caso do trigo, por exemplo. Em 2016, o Brasil colheu 6,8 milhões de toneladas de trigo, sendo que 3,48 milhões no Paraná (51% do total). Isso se repetiu com o feijão (22,78%), cevada (53,68%) e centeio (30,99%).
Metodologias diversas – Para aferir a validade da afirmação do candidato – que insiste na unidade “produção por metro quadrado” – seria preciso aplicar mundialmente os mesmos critérios. Até porque quando a grandeza varia, os resultados mudam junto.
Isso fica mais evidente ao considerarmos a abordagem do Comitê Estratégico Soja Brasil, que faz anualmente um concurso de produtividade com critérios padronizados entre os concorrentes.
Em 2017, venceu uma fazenda da cidade de Sarandi, no Rio Grande do Sul. Lá, o agricultor Gabriel Bonato obteve 7,6 toneladas de soja por hectare – dentre as cinco propriedades mais bem colocadas, nenhuma fica no Paraná.
Neste ano, segundo o governo estadual, o Paraná atingiu a média de 3,6 toneladas por hectare.
“Sentimento da grandeza” – Por meio da assessoria da campanha, Ratinho Júnior diz, justificando-se, que “são cerca de 400 itens produzidos no Paraná, numa ampla variação que vai desde uma folha de chá à produção pecuária. O Paraná produz em escala grãos, proteína animal, frutas, madeiras multiuso, etanol”. “A afirmação do candidato”, completa a assessoria, “expressa esse sentimento, da grandeza e diversificação do agronegócio no nosso estado”.
“O destaque feito por Ratinho Júnior leva em conta o fato de o Paraná, em função das condições climáticas favoráveis e o uso de tecnologia, conseguir realizar duas safras em um único período anual. Estamos em uma faixa de transição subtropical e temperado. Além disso, o Paraná tem uma faixa de latossolo vermelho, um dos melhores solos do mundo para plantio. Essa combinação de clima, solo e tecnologia permite uma produção com pauta rica e diversificada”, argumenta-se.
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