Robaina erra ao dizer que setor agropecuário é o que menos emprega
Ao falar sobre a política de incentivos fiscais para exportação de produtos primários, candidato ao governo gaúcho pelo PSOL se baseou na variação negativa de empregos formais no campo, o que não reflete números totais de trabalhadores no setor
Agropecuária no Rio Grande do Sul Agricultura Agronegócio Economia Trabalho
“[O setor agropecuário] é o setor que menos emprega na economia.”
Roberto Robaina (PSOL) voltou a falar sobre a taxação de produtos primários como forma de recuperar o caixa do Rio Grande do Sul, em entrevista para o Jornal do Comércio publicada na edição impressa de 13 de agosto. Para ele, os incentivos ao setor agropecuário não se justificam porque este seria o setor que menos emprega na economia. “Esse é o setor que menos emprega na economia e, por sinal, um dos que pagam os salários mais baixos”, disse o candidato.
Os critérios que embasam a declaração quanto ao emprego, no entanto, referem-se à variação do saldo de contratações e demissões no setor entre maio e junho, e não ao total de trabalhadores que atuam nessa área. O Truco nos Estados – projeto de checagem de fatos da Agência Pública, feito no Rio Grande do Sul em parceria com o Filtro Fact-checking – verificou, já que a agropecuária é um dos motores da economia gaúcha, respondendo por 8,5% do PIB do estado.
Consultada sobre a fonte usada pelo candidato, a assessoria indicou como base o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged) – órgão que contabiliza a movimentação nas vagas formais, ou seja, quantos trabalhadores foram contratados e quantos foram demitidos dentro de um determinado período. Segundo relatório divulgado pelo Ministério do Trabalho, o Rio Grande do Sul teve desempenho negativo no emprego formal em junho.
Em números absolutos, o comércio foi o setor que mais perdeu vagas, com o fechamento de 2.132 postos de trabalho – o que representou uma variação negativa de 0,36%. O agropecuário foi o segundo, com perda de 1.857 vagas no saldo final. Proporcionalmente, a queda de postos de trabalho formal no campo foi de 2,16% – a maior das oito áreas contabilizadas pelo Caged. Esses indicadores revelam a redução de vagas celetistas, mas não servem para confirmar a assertiva de que a agropecuária emprega menos – isto é, tem menos gente trabalhando – do que outros segmentos, uma vez que a quantidade de trabalhadores na agropecuária ainda é maior do que o número de trabalhadores de outras áreas.
Mesmo se considerarmos o fato de o setor agropecuário ter apresentado a pior variação em junho de 2018, com 4.446 demissões, o ramo abriu 2.589 postos – mais do que os setores de administração pública (84), extrativa mineral (94) e serviços industriais de atividade pública (369). Assim, apesar do saldo final negativo, o agropecuário gerou mais empregos do que outras três áreas.
Total de trabalhadores no campo supera outros setores no RS
A assessoria de Robaina argumenta que “o Rio Grande do Sul tinha 84 mil trabalhadores formais no setor agropecuário (incluindo apenas agricultura, pecuária, extração vegetal, caça e pesca) em junho de 2018. Isso representa uma queda de 3,5% em relação à posição de 1º de janeiro, que era de 87,1 mil trabalhadores”. Tais números, prossegue a assessoria, “foram fruto de um cruzamento de dados que fizemos a partir de informações disponíveis no site do Caged (Perfil dos Municípios e o Boletim de Evolução Mensal de Emprego)”.
Contatado pela reportagem, o Ministério do Trabalho afirma que o Caged só terá dados consolidados no fim do ano.
É questionável comparar os meses de janeiro e junho, pois o setor agropecuário, assim como o mercado de trabalho de maneira geral, é influenciado por aspectos sazonais. Na agricultura, épocas de colheita alimentam a abertura de vagas. Durante o defeso, é proibido pescar para garantir a reprodução dos peixes. Há, portanto, variações esperadas dentro de um único ano. Dessa forma, o mais adequado seria contabilizar o período entre junho de 2017 e junho de 2018 – dados ainda não consolidados pelo Caged.
O documento mais recente sobre o tema é a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 2016 – também citado pela assessoria de Robaina como fonte. Nele, o ramo agropecuário aparece com 85,6 mil vagas formais no fim de 2016 – bem mais do que os serviços industriais de utilidade pública, ramo com menos empregos formais (27,9 mil). Além disso, foi o único a ter saldo positivo (+1,05%) em relação ao ano anterior, ou seja, foi o que mais gerou vagas de todas as áreas analisadas.
O setor agropecuário também não é o que menos emprega no Rio Grande do Sul se considerarmos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o órgão, o ramo agropecuário é o quarto colocado em uma lista de 10 setores econômicos.
A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do segundo trimestre de 2018, divulgada em 16 de agosto, apresenta o número de pessoas ocupadas por grupamentos de atividade do trabalho principal. Conforme os resultados para o Rio Grande do Sul, disponíveis no site do IBGE, entre abril e junhho de 2018, foram contabilizados 614 mil trabalhadores em agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura – o que equivale a 11% do total de postos de trabalho no estado e garante a quarta colocação na lista de 10 grupamentos do IBGE.
O setor que mais emprega é o de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, com 989 mil vagas, 18% do total. O grupamento alojamento e alimentação é o último do ranking, com 229 mil trabalhadores (4%) no segundo trimestre deste ano. Os números do IBGE para o setor agropecuário gaúcho mantêm uma regularidade em relação ao trimestre imediatamente anterior (janeiro a março de 2018), bem como ao trimestre de abril a junho de 2017.
Assim, a informação de que o setor agropecuário é o que menos emprega não se sustenta, sendo classificada como “Falsa”, pois há outros setores com menos postos de trabalho tanto pelo método do Caged (emprego formal) quanto do IBGE (que considera também o trabalho informal).
Resposta do candidato
Ao ser informada sobre o selo atribuído pelo Truco nos Estados, a assessoria de Robaina fez a seguinte manifestação:
“O Caged é o órgão do Ministério do Trabalho que compila dados sobre os assalariados (trabalhadores com carteira assinada). Já o PNAD, do IBGE, não inclui em sua pesquisa apenas os trabalhadores com carteira assinada, mas também considera as famílias proprietárias dos estabelecimentos rurais.
Entre os principais setores da economia (Agropecuária, Indústria e Comércio e Serviços), o Caged mostra que a Agropecuária é a que menos emprega no Rio Grande do Sul, conforme pesquisa que pode ser feita no site do Perfil dos Municípios do Caged.
As afirmações do candidato se referem unicamente aos trabalhadores com carteira assinada, então o Caged é a fonte precisa de consulta.”
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